Luisa Stefani

A caçadora de sonhos improváveis

TACK!”

Tudo ficou preto. Não sei ao certo por quanto tempo. Eu perdi a noção de onde estava. Não ouvia nada. Silêncio total. Foi como um apagão.  Quando eu recuperei a consciência, os meus sentidos foram voltando.

E, assim, a dor tomou conta do meu corpo.  Eu não conseguia me levantar. Meu joelho estava completamente mole e minha perna dobrou. Senti como se fosse um elástico. Na hora que tentei esticar, o elástico virou para dentro. Ainda tentando entender o que tinha acontecido, eu me toquei.

Naquele exato instante tinha acabado o sonho de ganhar um título de Grand Slam, pelo menos por enquanto. Foi uma das raras vezes na minha vida que eu simplesmente não conseguia sorrir.

Desde pequena, o tênis foi uma escolha afetiva. Eu era super feliz jogando. Queria sempre jogar mais e não importava se eu perdia. Sempre escutava coisas tipo “caramba, você tá sempre sorrindo em quadra!”

Lembro até hoje da cartinha de Natal que meus pais deram para mim e pro Arthur, meu irmão, quando eu tinha 10 anos, assim que eu comecei a jogar.

Abri o envelope e ali havia uma inscrição na Federação Paulista de Tênis. Fiquei emocionada com aquele presente. Foi um dos mais legais que já ganhei na vida.

A partir daquele dia, senti que eu era muito competitiva. Eu sempre queria melhorar. Fazia futsal, natação, taekwondo… Meus pais sempre nos incentivaram a praticar vários esportes, mas eu escolhi o tênis.

Quem me apresentou o tênis foi a minha mãe, Alessandra. Ela tinha dificuldade no frescobol nas férias de fim de ano, então decidiu aprender um esporte de raquete. Gostou tanto que decidiu matricular meu irmão e eu nas aulas, lá na B Sports em Perdizes, perto de casa. Morávamos em Santa Cecília, em São Paulo.

Em 2011, nossos pais conversaram com a gente. Iríamos nos mudar. Mas não de cidade ou de estado. A ideia era a mudança para outro país: os Estados Unidos. Topamos logo de cara.

Eu ainda era adolescente, tinha 14 anos. Deixamos tudo para trás e fomos morar em outro país. Nos despedimos da família – e eu era muito apegada aos meus avós -, rotina e amigos… Deixamos tudo o que tínhamos no Brasil para trás. Eu tinha o sonho de ser profissional e meus pais sabiam que o melhor caminho seria lá fora, com a opção do circuito universitário.

Não vou mentir, no começo foi difícil, sim. Ninguém da família falava inglês fluentemente. Eu tinha acabado de entrar no high school, o Ensino Médio de lá. Passava as aulas anotando tudo o que eu podia para aprender. Lembro das aulas de História, que eram as mais complicadas porque o professor falava rápido e era a história de um país que não era o meu país, para começar.

Crescer nos Estados Unidos me ajudou de muitas maneiras. Agora eu vejo que foi ali que eu comecei a moldar a minha personalidade tanto dentro quanto fora das quadras. Tive de ser resiliente para superar os desafios da nova cultura, aprender a falar inglês, não ser tão tímida para me entrosar no ambiente novo e me preparar para as mudanças na minha rotina.

Sempre soube me expressar melhor com a raquete. Foi no exterior que aprendi a ser mais agressiva, bater mais forte na bola. Enquanto em São Paulo eu treinava com uma ou duas meninas, tinham 30 garotas da minha idade treinando e jogando na minha nova cidade. Era uma outra realidade.

Passei a treinar na Saddlebrook Tennis Academy. Ainda adolescente, cresci vendo jogadores como James Blake e Martina Hingis de perto. E isso me motivava a trabalhar ainda mais duro. Eu queria poder estar na “quadra dos profissionais” da academia, a famosa Quadra 9. A Gaby, minha atual parceira, também treinava lá. Nos conhecemos bem antes de jogarmos juntas.

A Saddlebrook é um centro de referência no tênis americano, meninas e meninos de todos os cantos do mundo se mudam para Flórida sonhando com um futuro no tênis. Eu era uma dessas milhares de crianças que sonhavam em ser profissionais. O problema é que de milhares você consegue contar nos dedos quantos conseguem de fato vingar.

No juvenil, eu cheguei à 10ª colocação do ranking, joguei todos os Grand Slams e os Jogos Olímpicos da Juventude, em 2014, mas não atingi as minhas próprias expectativas. Tive bons resultados especialmente nas duplas, com a semi de Roland Garros, do US Open e alguns títulos de simples, mas não achava que era o suficiente para fazer um impacto no profissional logo de cara.

Sentia que ainda faltava algo mais no meu jogo para competir com as melhores do mundo, tanto fisicamente quanto mentalmente também. A decisão de ir para o tênis universitário foi totalmente minha, mas meus pais tiveram grande influência. Era um plano B.

Seria um peso para os meus pais porque eu não tinha patrocínio na época, então vi na faculdade uma oportunidade de ganhar tempo sem precisar organizar uma estrutura própria de treinador e equipe. até hoje a gente brinca que foi por livre e espontânea obrigação mais foi uma das melhores decisões da minha vida.

Ser bolsista foi um alívio financeiro para os meus pais. Me preocupava em não conseguir me bancar financeiramente porque o tênis profissional é muito caro. São centenas de milhares de reais todos os anos em viagens, equipamento, estrutura, técnico, equipe… Um investimento alto e sem garantia de retorno.

Visitei algumas faculdades, pude ver o nível de jogo e escolhi Pepperdine, na Califórnia, que me ofereceu uma bolsa vitalícia. Minha ideia era jogar o circuito universitário por pelo menos um ano. Me prepararia melhor para o profissional do que saindo direto do juvenil.

 Minha temporada de 2015-16 foi tão boa que decidi jogar mais um ano, lidando com outro tipo de pressão. Fui de surpresa à favorita e ali eu aprendi a lidar a jogar sob pressão.

Tranquei a faculdade em 2017 e decidi me arriscar no circuito profissional. Tive bons resultados principalmente nas duplas, mas me senti muito sozinha no circuito. Não só mentalmente, mas sem estrutura de equipe.

Precisei disputar torneios na Europa por problemas de visto nos Estados Unidos. Decidi voltar para a Pepperdine  de janeiro a maio de 2018. Joguei mais um semestre no circuito universitário e voltei a competir nos torneios profissionais em 2019.

Sempre que eu podia durante o universitário, jogava torneios profissionais nos EUA. Tive bons resultados nas duplas e já comecei 2019 como top 200.

Em abril de 2019, a Giuliana Olmos, tenista mexicana, me chamou para jogar em Monterrey. Fizemos semifinal no torneio de nível WTA e entrei no top 130. Ali eu senti que as duplas me dariam a oportunidade de me bancar um pouco mais e jogar torneios grandes.

Me lembro até hoje do dia em que decidi desapegar do ranking de simples. Conversei com a minha mãe quando a Hayley Carter, que eu conhecia do circuito universitário, me chamou para jogar duplas. Estávamos perto do top 100, com um ranking difícil de entrar em torneios grandes. Ninguém do top 60 quer jogar contigo e ali surgiu uma oportunidade de subirmos juntas.

Desde o primeiro set de treino com a Carter, sentimos entrosamento. Logo no primeiro torneio, já fomos vice no WTA 250 de Seul. Entramos no top 100 e nosso primeiro título juntas veio no segundo WTA, em Tashkent, no Uzbequistão. Terminei 2019 como a número 68 do mundo.

Valorizo muito o jeito como a Hayley e eu crescemos juntas. Em dois anos, com uma pandemia no meio, fui de 120 para 23 do mundo com ela. Foi um capítulo super especial da minha carreira e me sentia muito confortável  jogando juntas. A gente jogava diferente da maioria das meninas, com bons reflexos, fechando a rede.

Mas a Hayley teve problemas físicos e decidimos interromper nossa parceria no segundo semestre de 2021, após o torneio de Wimbledon.

Quando a Hayley me disse que não ia mais jogar o resto da temporada, por mais que tenha me pegado de surpresa, ela abriu a oportunidade de jogar com a Gaby que também não tinha parceira para a gira de quadra rápida nos Estados Unidos.

A gente já tinha jogado uma vez juntas no ano passado e eu sabia que seríamos uma dupla de muito potencial. Com a Gaby, a parceria é muito natural, bem fácil de lidar. Eu acompanhava a carreira dela desde quando me mudei para a Saddlebrook, onde ela treinava, e sempre admirei bastante  o jogo dela.

A Gaby tem armas que cobriam o algo a mais que estava faltando com a Hayley. As minhas qualidades complementam as dela. Nossa maior meta é levar essa confiança de uma na outra e maneira de jogar na quadra inteira nos momentos importantes.

O período depois de Wimbledon foi delicado pra mim. Eu estava voltando da cirurgia de apêndice, terminei a parceria com a Hayley de surpresa e estava um pouco para baixo, tentando lidar com todas as incertezas. Eu estava bem cansada depois da longa gira na Europa, até que tudo começou a se encaixar.

Fechei parceria com a Gaby até o fim da temporada e recebi a ligação do Frick. Aquela notícia veio na hora certa, ele nos avisou de surpresa que a Laura e eu estávamos classificadas para Tóquio. Nós duas iríamos realizar o sonho de disputar uma Olimpíada.

Três meses antes dos Jogos Olímpicos, decidi jogar ao lado da Carol Meligeni na Billie Jean King Cup. Perdemos no jogo decisivo contra a Polônia. Aquela derrota me marcou, chorei muito naquele dia. Naquela hora eu me culpei mas estou aprendendo a não me culpar.

Precisei de alguns dias para superar mas não me arrependo da escolha que fiz. Fui bronze no Pan com a Carol. Também ouvi o que o resto da equipe tinha a dizer e nos pareceu o melhor caminho no momento.

Na época, não tinha treinado tanto ou disputado muitos torneios com nenhuma das duas, então achei que naquele momento me sentiria mais confortável do que com a Laura. Foi uma das derrotas mais duras da minha carreira.

Quando cheguei a Tóquio, descobri que minha primeira adversária seria justamente a minha parceira.

Eu não olho a chave, mas quando me avisaram que o sorteio foi contra o Canadá, pensei: “Putz, a única que não queria pegar de primeira”. Foi chato pensar que uma de nós perderia logo de cara. Elas eram favoritas, mas não fiquei surpresa com a vitória.

Foi muito legal compartilhar essa experiência olímpica com a Lau. Era um sonho alcançado e fomos com a mentalidade de aproveitarmos cada momento, arrepiadas a semana inteira convivendo com a equipe e atletas de outros esportes.

Lembro da conversa que tivemos no gramado atrás dos aros olímpicos, um papo transparente que nos ajudou a melhorar. Foi um dos momentos mais legais e importantes para  ficarmos entrosadas logo no primeiro dia.

A Lau e eu sempre acreditamos que podíamos ganhar a medalha, até usamos a hashtag #Ouremos que a gente criou no Pan de 2019. Eu estava vivendo um sonho. Nossa rotina antes do jogo fazia a gente entrar no pique, no gás. Cantávamos um trecho do Hino Nacional:

Gigante pela própria natureza És belo, és forte, impávido colosso E o teu futuro espelha essa grandeza Terra adorada Entre outras mil És tu, Brasil Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil Pátria amada Brasil!“. A Lau que puxava mais, sempre entramos animadas nas partidas.

Se elas queriam, a gente queria sempre mais. Levamos essa energia, essa vontade e mostramos para as nossas adversárias. E elas sentiam isso. Na segunda rodada, salvamos quatro match points contra a República Tcheca e fomos descobrindo durante a campanha quais jogadas funcionavam e poderíamos usar.

Nas quartas de final, ganhamos da Pegula e da Mattek-Sands, mais um jogo no match tie-break e uma vitória bastante especial. Tínhamos confiança de que poderíamos ganhar delas. A Laurinha estava com muita confiança, você percebia pela maneira que ela estava batendo na bola, nas nossas interações, na nossa postura em quadra.

Perdemos a semi para a Suíça, da Bencic, ouro em simples e prata nas duplas. Mas a gente não se abalou e manteve o foco na medalha. Na disputa da medalha de bronze, um momento que me marcou muito foi quando ganhamos o segundo set e empatamos o jogo. As russas foram ao banheiro antes do match tie-break. No intervalo, cantamos o trecho do hino que mais gostamos. Voltamos arrepiadas para o jogo, com energia a full para ganhar a medalha.

Elas abriram 9-6 no match tie-break. Naquela hora, nem sei descrever o que eu estava pensando. A Lau e eu estávamos muito focadas e motivadas pela nossa torcida do Time Brasil. Eles vibravam demais, me faz arrepiar até hoje ao lembrar disso. Fomos jogando ponto a ponto, sabíamos que as russas é que estavam pressionadas.

Quando a última bola saiu, foi uma sensação indescritível, o momento mais especial da minha vida dentro da quadra até hoje. A Lau e eu sabíamos que a gente tinha chegado até por confiarmos uma na outra. O pessoal que estava torcendo para nós duas lá em Tóquio nos fez sentir a energia do Brasil.

Tem dias em que eu penso: “Caramba, o que aconteceu?”. Para mim, uma das maiores conquistas foi fora da quadra. O reconhecimento das pessoas com as duplas, os nossos jogos que passaram na TV… Obviamente eu tive bons resultados com a Dabrowski, mas qual seria a chance de transmitirem se a Laura e eu não tivéssemos conquistado uma medalha olímpica?

Lembro do meu primeiro torneio depois que o circuito voltou durante a pandemia. Fui campeã de um WTA 250 com a Carter, em Lexington. Eu não esperava que fosse a maior notícia do mundo, mas fiquei chateada porque não transmitiam WTA no Brasil.

Ali eu comecei a tentar entender a questão de contratos e transmissões. Muita gente me falou “Ah, Lu, é assim mesmo, é que você só está conhecendo isso agora, não vai mudar. Não se estressa com isso, foca no seu.”  É verdade que eu ainda sou jovem e ainda estou aprendendo a fundo, mas não quer dizer que eu não posso ficar incomodada com isso. Eu acho que deveria ser diferente. Foi um grande passo demonstrarmos que tem demanda e popularidade na Olimpíada.

Vejo claramente como o interesse nos meus jogos aumenta quando tem transmissão na TV. As partidas na televisão pavimentam o caminho dos nossos passos na direção certa. Sei que é algo que muda de uma hora para outra, mas as emissoras podem fazer muita gente que nunca jogou tênis ou não gostava do esporte começar a acompanhar.

Eu sei, isso não vai mudar de uma hora para outra. Mas tem que começar a mudar, sabe? Se não agora, quando? Por isso, vejo com bons olhos os últimos meses. Deram esperança de ver mais jogos na TV. Jogos que eu não tive a chance de assistir quando era criança. Ainda nem voltei ao Brasil depois de Tóquio, fui direto para San Jose jogar com a Gaby. Vencemos o WTA 1000 do Canadá e fizemos a final em Cincinnati. Fomos para o US Open como uma das principais favoritas ao título em um momento incrível.

Estávamos muito confiantes que esse poderia ser o nosso primeiro Slam e a minha primeira final. Não dava para saber o que teria acontecido, mas tudo caminhava bem até o sonho acabar no US Open. Tiebreak do primeiro set, 2-0 para a gente.

Dava para sentir a tensão na semifinal contra a Gauff e a McNally. Foi tudo muito rápido. Eu lembro que a Gaby sacou, a McNally devolveu e a minha ideia era ir para direita. Mas na hora que eu pisei… Eu só senti um um estalo: “TACK”.

Eu caí. Coloquei a mão no joelho e ficou tudo preto.

Perdi a noção por alguns segundos. Não ouvia nada. Até que comecei a escutar a bola. Levantei a cabeça e vi que a Gaby ainda estava jogando o ponto. “Caramba, será que dá pra eu levantar um jogar o ponto?”

Não consegui. A Gaby percebeu que não reagi, aí só coloquei a cabeça no chão de novo porque estava com muita dor. Eu estava completamente apavorada por ter sentido o estalo. Eu já sabia que havia alguma coisa errada.

Eu não acredito. Eu não sabia o que pensar. Fiquei completamente em choque. A fisioterapeuta chegou e começou a fazer perguntas. Segurei forte no punho da minha parceira porque eu não sabia o que eu ia sentir.

Estiquei a perna como pediram, a dor foi diminuindo e me acalmei. Mas quando tentei apoiar o pé, eu me dei conta de que meu joelho estava mole. É como se tivesse um elástico e o elástico vira para dentro. Doi assistir o vídeo porque foi quando eu me toquei que não ia dar mais.

Ali, naquele instante, eu entendi que o meu sonho tinha acabado.

Saí na cadeira de rodas, aplaudida. Não eram os aplausos que eu imaginava. Não era assim que eu queria me despedir daquela quadra.

Tentei avisar minha mãe de que estava bem. Dei um joinha para ela porque sabia que também não é fácil de assistir, da mesma forma que não é fácil de estar na situação. No túnel, levantei de novo e aconteceu a mesma coisa. A minha perna só dobrou, não conseguia ficar em pé.

Fiz testes com a fisio e ela já começou a tirar conclusões do que poderia ser.   Tentei não me culpar. Eu tinha sofrido uma lesão. Mas, sim, eu fiquei decepcionada tanto por mim quanto pela Gaby

Estava muito confiante de que poderia ser nosso primeiro título de Grand Slam e a minha primeira final. Não dá pra saber o que teria acontecido, mas era um momento delicado e importante.

Em meio àquilo tudo, ainda tive que fazer exame antidoping. Eu estava na cadeira de rodas, com dor e tentando me recuperar, mas só fui liberada para ir para o hospital depois de realizar o teste.

Na próxima hora, fomos para o hospital. Naquele momento, esperando para fazer a ressonância, aí realmente eu senti. Eu tinha pedido para ver o vídeo e repassei a imagem mil vezes na minha cabeça. Mas os pensamentos racionais logo predominaram. Era momento de aceitar. Não tinha mais o que fazer.

Logo que fiz os exames, eu já comecei a pesquisar tudo no Google. Fisioterapia, pré e pós-operatório, como e onde eu faria a cirurgia. Minha mente ficou bastante ocupada e não pensei tanto no que tinha acontecido.

Os primeiros momentos foram duros. Eu estava tão em choque que eu nem consigo descrever se eu estava brava, se eu estava triste. Felizmente, tive o apoio de bastante gente. Meu irmão, minha mãe, a Gaby, meu técnico, a Ziza e a Nora, amiga da Gaby, foram muito importantes desde os primeiros dias.

Recebi a indicação do Dr. Jorge Chahla, o mesmo que operou o Del Potro. Decidi que a cirurgia seria em Chicago. Gostei muito dele, deixou as coisas muito claras e me passou exatamente os passos que eu precisava fazer antes da cirurgia, como seria o procedimento cirúrgico. O procedimento foi de reconstrução do ligamento do joelho a partir do tendão patelar.

Depois da cirurgia, voltei para Tampa, para começar a recuperação e esperar o nascimento da minha sobrinha. Pretendo ir ao Brasil mais para o final do ano, vai ser a primeira vez desde a medalha em Tóquio. Antes da lesão, eu planejava jogar os torneios ITF. Seria uma oportunidade de eu subir meu ranking de simples. Esses campeonatos são muito importantes para tornarmos o tênis mais visível.

É um caminho muito complexo pra gente conseguir levar o tênis para um grande patamar, ser uma potência no Brasil e assim conseguir gerar tenistas  aí. A gente tem muito talento, a gente tem não só de jogadoras, mas também de treinadores. É um ciclo que não muda de uma hora para a outra. Eu tenho de aprender no caminho como eu posso colaborar mais.

Quando estamos na Billie Jean King Cup, nós conversamos sobre a importância de se preocupar  com quem está vindo atrás na próxima geração. No momento, não temos muitas juvenis de destaque. Nós sabemos que nossos resultados são importantes para que novas meninas possam vir.

Quero deixar um legado não só para que as meninas acreditem nos seus sonhos, mas realmente busquem e encontrem pessoas que deem sentido a esses objetivos. Que todas possam se conhecer, continuar aprendendo, continuar levando consigo gente que as faça melhorar.

Por enquanto eu estou focada em cada passo que dou. Obviamente, ninguém quer  passar por um momento assim. Mas a cirurgia era a única opção e assim foi. Estou vivendo o presente. É isso, é isso que eu vou tirar o máximo de proveito disso. Vou fazer o melhor da situação, seja ela qual for.

Não sei ao certo quando vou voltar a jogar. Pode ser em março, maio, julho… prefiro não colocar uma data para não criar expectativa. Vou dar tempo ao tempo porque sei que a jornada ainda é longa e esse momento vai me fazer mais forte em busca dos meus sonhos pessoais e para o tênis brasileiro.

Sigo sonhando em ganhar pelo menos um Grand Slam e voltar a jogar uma Olimpíada, em Paris. Quero muito ser a melhor duplista do mundo e me dar a chance de voltar a competir nas simples, buscando um lugar no top 100.

Mais do que isso, quero mostrar para todas as meninas para acreditarem em seus sonhos. Faz sentido lutar pelo que você quer. Corra atrás do que vai te fazer feliz e tenta. E sempre que alguma coisa não dá certo, não se preocupe, tudo passa… até o inchaço no meu joelho!

Lembre-se de sorrir e olhar para o mundo de um modo mais positivo para equilibrar tanta negatividade. Não vou mentir, não é fácil. Nunca é. Mas se você se permitir ser a sua melhor versão, você conseguirá encontrar forças dentro de si até nos momentos difíceis.

2021 uma grande temporada do começo ao fim. Meus melhores resultados com ótimas parcerias e momentos inesquecíveis. Os desafios que superei neste ano me motivam demais.

Bora para 2022!

Créditos das fotos: William Lucas, Marcelo Ruschel, Cristiano Andujar/CBT, WTA, Nora Stankovic, Tennis Canada

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